Da terceira divisão do Rio de Janeiro para a Série C do Brasileirão. Em cerca de cinco anos, Serjão viveu de tudo. Jogou pouco no Itaboraí, mas se tornou ídolo; ganhou título e quilometragem no Mageense; encarou um desafio em Rondônia; e atingiu o auge no estado do Ceará. Trajetória que o fez ser contratado, aos 25 anos, pelo Ferroviário, um dos mais tradicionais clubes cearenses.

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Na volta do futebol nacional pós-pandemia, Serjão defenderá o Ferroviário na Série C do Brasileiro. Foto: Divulgação.

O ano de 2020 teve início no modesto Barbalha, onde Serjão foi um dos principais destaques individuais, a ponto de defender uma cobrança de pênalti no Estadual, contra o Fortaleza, e ser elogiado pelo técnico rival, o ex-goleiro Rogério Ceni, e o atacante Wellington Paulista, justamente o cobrador da penalidade.

– Individualmente me saí bem. Essa defesa de pênalti do Wellington Paulista foi o plus, com toda certeza. O Wellington mesmo falou que não ficou triste, mas feliz porque quem pegou era um cara merecedor. Esse reconhecimento dele, do Rogério, e tantas outras coisas me ajudaram bastante – avalia o arqueiro, que também se destacou contra o Ferroviário. Daí o interesse pela contratação.

– Fiz duas grandes atuações contra o Ferroviário e o Batatais (treinador da equipe até então) me chamou. Foi só acertar detalhes. Estou de novo em solo cearense, agora para a Série C do Brasileiro. Costumo dizer que cheguei na mina do ouro, agora é só escavar. É só encontrar o tesouro.

Ponto alto da carreira

Antes de chegar no Barbalha e chamar a atenção do Ferroviário, Serjão já havia vivido a glória de ser campeão da Série C do Campeonato Carioca pelo Mageense. Ainda assim, o destaque no Estadual do Ceará é apontado como o auge da carreira até aqui.

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Antes de brilhar no Estadual do Ceará, Serjão ganhou rodagem valiosa no Mageense. Foto: Caio Almeida.

– Foi o ponto alto, apesar da belíssima campanha do Mageense com título. Mas agora é um nível de competitividade diferente, num Estadual que conta com duas equipes da elite, que são Fortaleza e Ceará, com atletas reconhecidos. Pude enfrentá-los e fazer boas atuações, apesar da derrota, e sobressair mostrando que o Serjão está pronto, fazendo nome no mercado. O Barbalha foi o ponto alto – explica Serjão, sem deixar de valorizar o período que teve no Verdão de Magé, entre 2018 e 2019.

– Para a gente que é goleiro, o scout conta muito. Quando analisam quem é o Serjão, no primeiro e segundo ano de Mageense, podem ver que fiz grande sequência, com poucas lesões. Fiz excelente trabalho no Ji-Paraná também, apesar de não ter jogado, tanto que estava negociando com eles também. Todo mundo quer o Serjão pelo profissional que é. O Mageense foi o trampolim e me preparou melhor para o Barbalha.

No Itaboraí, carinho da torcida e momentos marcantes

No Leste Fluminense, Serjão vestiu a camisa do Itaboraí entre 2015 e 2018. Foram apenas duas partidas, mas a identificação com a torcida foi algo marcante, a ponto de Serjão ganhar um bandeirão com seu rosto ao lado de Scott, um dos grandes ídolos da história da ADI.

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No Itaboraí, se tornou ídolo da torcida e ganhou bandeirão, apesar de ter sido pouco utilizado. Foto: Gabriel Farias.

– Eu fiz duas partidas, apenas, em praticamente quatro anos no Itaboraí, mas as pessoas viam o Serjão como um dos mais profissionais que já vestiram aquela camisa. Se tivesse jogado mais, teria uma história ainda mais bonita. Trabalhei com comprometimento e fiz além.

– No extracampo eu gostava de estar presente sempre. O Serjão ajudou a pegar bola, cantou com torcida e sempre deu a cara a tapa quando não estava legal. Fora de campo devemos exercer espírito de liderança, então eu representava bem mesmo sem grande sequência de jogos, mas com humildade. Tudo isso me favoreceu para me tornar um ídolo.

Jeito “roceiro” casou com arquibancada

Nos jogos do Itaboraí, no Alzirão, é comum a torcida do clube exaltar o estilo “roceiro” nas arquibancadas. Serjão, natural da pequena Monteiro Lobato, em São Paulo, logo se identificou. Antes de ser atleta profissional, o goleiro ajudava a família em trabalhos manuais na lavoura.

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Momentos marcantes fora de campo transformaram o goleiro em referência na ADI. Foto: Gabriel Farias.

– Quando a gente não tem vergonha de onde veio, e reforça raízes, a gente consegue consolidar nossas diretrizes. Eles viam o cara que vinha do interior, que tinha sotaque, e se viam em mim e gostavam além do que gostavam de outros atletas. Quando tinham acesso ao clube, o Serjão sempre demonstrava interesse. Fiz homenagem com músicas, cheguei a carregar torcedor com a perna quebrada para assistir um jogo. Todos esses detalhes foram somados ao empenho e história de vida.

Atual momento do Itaboraí

De longe, Serjão assistiu o Itaboraí ser rebaixado em 2019, na Série B1 do Carioca, numa campanha pífia. A crise financeira que desmontou por completo o elenco custou caro e fez o clube voltar para a terceira divisão do Rio.

– A gente sente muito. O coração fica em prantos pela história belíssima com campanhas de quase acesso à Série A. Um clube onde fiquei quatro anos, vendo a torcida ajudando. Os jogadores que lá estavam fizeram o que podiam, mas infelizmente teve um péssimo ano. Fico na torcida para a ADI se reerguer e a torcida sempre encher o Alzirão.

Primeiro filho a caminho

Ao ser contratado pelo Mageense, em 2018, Serjão ganhou muito mais do que um clube para atuar. Na cidade de Magé, conheceu a esposa Aline Francelino, que está grávida. Vem aí o primeiro filho do casal. O sexo ainda não se sabe. A única certeza, segundo Serjão, é que será mais um goleiro (a).

– Encontrei em Magé o amor da minha vida, minha esposa. Casei e vou ser pai. Costumo dizer que cheguei em 2015 no Rio de Janeiro, bebi a água do Rio e decidi ficar. Ainda não sei o sexo da criança, mas se for menino, será José Armando; se for menina, vamos chamar de Catarina. No ultrassom já abriu a mãozinha para receber a bola, como se fosse goleiro.