Tudo caminhava bem no Brasil. Formado em fisioterapia, Romulo Freitas já tinha dado um salto interessante na carreira. Havia passado pelo Boavista, sendo vice-campeão da Taça Guanabara em 2011 e, na sequência, foi trabalhar nas categorias de base da Seleção Brasileira. Foi então que o telefone do gonçalense tocou em 2014 com uma proposta desafiadora: trabalhar na China.
Aceitar ou não o convite? Romulo pagou para ver e foi. E segue na Ásia até hoje. Depois de passar pelo Henan Jianye, clube de futebol masculino da Superliga Chinesa, ele agora trabalha na Seleção Nacional Feminina, tendo participado, inclusive, da última edição da Copa do Mundo. O tempo comprovou: valeu a pena ter largado tudo e encarado a mudança para o outro lado do mundo.
– Eu fui parar na China numa coisa de Deus mesmo. Não tem outra explicação. Um empresário que eu nunca tinha visto me faz o convite de ir para o Henan Jianye. Caiu como uma bomba. Sempre tive vontade de ir para fora, mas não esperava a China. Fiquei um pouco preocupado, mas, como era contrato de um ano, fui ver como era – explica Romulo, que inicialmente se mudou sozinho e só depois levou a esposa e os três filhos.
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– Fui o primeiro fisioterapeuta do clube. Eles nem sabiam qual era a função exata. Foi difícil o início. O chinês é diferente. Se for contra aquilo que eles pensam, eles não aceitam. Eles queriam saber como eu era, o que eu fazia. Eles foram acostumando comigo e eu me adaptando a uma cultura totalmente diferente. Fomos desbravando devagar, mas colocando aquilo que eu tinha de experiência e respeitando a visão deles.
Realizando sonhos na Seleção
O treinador com o qual Romulo Freitas trabalhou no Henan Jianye foi o responsável por levá-lo à Seleção Feminina da China. Na equipe nacional, o gonçalense realizou o sonho de trabalhar numa Copa do Mundo, em 2019, na França. Agora vive o desafio de qualificar o selecionado chinês para as Olimpíadas de Tóquio, adiadas para 2021.
– A Copa foi uma experiência maravilhosa. Dentro do futebol, foi a maior que já tive. Sempre tive sonho de Olimpíadas e Copa do Mundo. Abri mão da CBF, mas papai do céu me deu essa oportunidade, no feminino, com uma excelente estrutura, com estádios cheios. Objetivo era passar da primeira fase e conseguimos – relembra o fisioterapeuta, que aos 42 anos persegue o sonho olímpico.
– Fizemos o pré-olímpico na Austrália e ficou faltando o jogo contra a Coréia do Sul, que está indefinido por conta da situação da pandemia, para saber se vamos conseguir a vaga.
Projeto de vida em solo chinês
Se engana quem pensa que Romulo pretende voltar ao Brasil tão cedo. Por enquanto, as visitas ao país de origem são apenas nas férias ou em momentos como o atual em que o futebol está paralisado por conta da pandemia do novo coronavírus. A ideia do fisioterapeuta é seguir criando os três filhos na China.
– A minha adaptação foi rápida, tranquila. Da família demorou pouco mais de um ano, por conta de alimentação, cultura e língua. São três filhos tendo que aprender inglês, chinês… algo complicado na cabeça deles. Pretendo ficar na China por um bom tempo. É muito bom, muito seguro. Quem não conhece o país, precisa conhecer. É um país aberto ao mundo inteiro, tem tudo. Moro em Pequim e tem churrascaria brasileira, restaurante italiano, japonês… A educação é muito forte, assim como a saúde. Então a qualidade de vida é muito boa.
– Sou valorizado na parte financeira e profissional, então pretendo ficar. Até quando, não sei. Mas gostaria de ficar até meus filhos pelo menos terminarem o colégio. Se um dia tiver que voltar, é para o Brasil, que eu amo.
A família de Romulo se encontra no Brasil desde janeiro. O fisioterapeuta, que estava na Austrália até março, disputando o pré-olímpico, veio direto da Oceania. Agora aguarda a liberação das autoridades chinesas para voltar à Ásia e retomar o trabalho na Seleção Feminina.